À procura da verdade do próprio ser
A quaresma pretende reactualizar os quarenta anos de deserto de Israel, guiando o crente ao conhecimento de si, isto é, ao conhecimento daquilo que o Senhor, de quem crê, já conhece: conhecimento que não é feito de introspecção psicológica mas que encontra luz e orientação na Palavra de Deus. Como Cristo que por quarenta dias combateu e venceu, no deserto, o tentador, graças à força da Palavra de Deus (cf. Mt 4,1-11), assim o cristão é chamado a ouvir, a ler e a rezar mais intensa e assiduamente -na solidão como na liturgia- a palavra de Deus contida nas Escrituras. A luta de Cristo no deserto, torna-se assim exemplar e lutando contra os ídolos o cristão deixa de fazer o mal que está habituado a fazer e começa a fazer o bem que não faz! Emerge assim a "diferença cristã", aquilo que constitui o cristão e que o torna eloquente na companhia dos Homens; que o habilita a mostrar o evangelho vivido, feito carne e vida.
A quarta feira de cinzas assinala o início deste tempo propício da quaresma e é caracterizado, como o nome indica, pela imposição das cinzas sobre a cabeça de cada cristão. Um gesto que, talvez hoje, não seja compreendido mas que, explicado e interiorizado, pode ser mais eficaz que as palavras, na transmissão da verdade. As cinzas são o resultado do fogo que arde, contêm o simbolo da purificação, constituem uma memória da condição do nosso corpo que, depois da morte, se decompõe e se transforma em pó; como uma árvore frondosa que, depois de abatida e queimada, se transforma em cinzas, assim sucede ao nosso corpo quando volta para a terra, contudo, aquelas cinzas têm um destino: a ressurreição.